PEDAGOGIA DO TESTEMUNHO
1.NECESSIDADE DO TESTEMUNHO:
Desde as origens que a mensagem cristã se apresenta como testemunho. Basta pensar na urgência e no ardor com que as mulheres que foram ao sepulcro e os apóstolos anunciaram a grande novidade de que Jesus ressuscitou e está vivo. A evangelização, que comunica ao mundo a Revelação, é, ao mesmo tempo, testemunho e anúncio (cf DGC 39).
Assim se dirigia João Paulo II aos jovens: "Anunciar Cristo significa sobretudo ser testemunhas com vida. Trata-se da forma de evangelização mais simples e, ao mesmo tempo, eficaz, à vossa disposição. Consiste em manifestar a presença visível de Cristo na própria existência, através do empenho quotidiano e da coerência com o Evangelho, em cada opção concreta. Hoje, o mundo precisa, antes de tudo, de testemunhas credíveis" (Mensagem para a VII Jornada Mundial da Juventude).
De tal modo o testemunho é importante na vida dos cristãos que o Concílio Vaticano II viu no “testemunho duma fé viva e adulta” (GS 21) o grande remédio para o ateísmo. O decreto conciliar Ad Gentes esclareceu bem a dinâmica do processo evangelizador: testemunho cristão, diálogo e presença da caridade (n. 11-12), seguindo-se depois o anúncio e as várias etapas da iniciação (cf DGC 47).
Hoje, quando a Igreja sente a urgência de uma nova evangelização, surge um binómio: testemunho e anúncio (cf DGC 46). Ora, o facto de alguns documentos recentes (Directório Geral da Catequese, Novo Millenio Ineunte e Eclesia in Europa) referirem sempre o anúncio ligado ao testemunho constitui, sem dúvida, uma verdadeira chave de leitura para a evangelização e para a catequese do nosso tempo: “O Evangelho da esperança, entregue à Igreja e por ela assimilado, precisa de ser diariamente anunciado e testemunhado” (EE 56). E ainda: “O cristão está chamado a ser uma transparência real do Ressuscitado, vivendo em comunhão íntima com Ele” (cf EE 39) .
2.O TESTEMUNHO É O AMOR VIVIDO:
Ninguém pode evangelizar sem uma fé profunda, uma esperança firme na salvação de Deus e uma vida generosa e plena na caridade. Como afirma Urs von Balthasar, "num último sentido, sem motivo para dúvidas, só o amor é digno de crédito" (Testemunho e credibilidade in Communio 2(1988)168).
Servir o Evangelho da esperança com uma caridade que evangeliza é obrigação e responsabilidade de todos. De facto, seja qual for a vocação, o carisma e o ministério de cada um, a caridade é a estrada mestra que toda a comunidade eclesial é chamada a percorrer seguindo as pegadas do seu Mestre (cf EE 44).
É por o testemunho consistir no amor vivido que o "creio" e o "cremos" se exigem mutuamente(cf DGC 83). Por outras palavras, não há fé sem caridade.
3.A CATEQUESE DEVE FORMAR TESTEMUNHAS:
Precisamos de uma catequese que ensine jovens e adultos das nossas comunidades a aderirem de tal modo ao absoluto de Deus, que possam dele dar testemunho no seio de uma civilização materialista que o nega (cf CT 57).
É neste mundo assim que a catequese tem de ajudar os cristãos a serem, pela sua alegria e serviço a todos, "luz e sal"(cf CT 56).
A Palavra de Deus contida na Tradição e na Sagrada Escritura brilha na vida da Igreja sobretudo através do testemunho dos cristãos (cf DGC 95). O meio habitual de que o Senhor se serve para chamar alguém à fé “é a transmissão da revelação, sobretudo o anúncio e o testemunho vivo, entusiasmante do Evangelho” (ATV 2).
Como dizem os nossos bispos, “A formação cristã deve sublinhar a importância do testemunho dos santos no meio do mundo e fazer com que todos tenham consciência de que a santidade não é apenas para alguns mas sim vocação comum de todos os fiéis” (CEP, Os cristãos leigos, 23). A comunidade cristã tem de apresentar “um testemunho vivido da fé no qual a catequese encontra a sua base de apoio” (ATV 5). É assim que o testemunho da catequese requer uma comunidade testemunha.
4.O CATEQUISTA É UMA TESTEMUNHA:
Numa catequese verdadeiramente cristocêntrica, o catequista não pode ser senão uma testemunha. Se estivesse em causa apenas uma doutrina ou somente uma moral, não haveria necessidade de que o catequista fosse uma testemunha; porém, tratando-se de uma Pessoa, de um acontecimento, a catequese necessariamente exige, por um lado, o testemunho e, por outro, há-de conduzir ao testemunho: "O que vimos e ouvimos, vos anunciamos, para que estejais em comunhão connosco" (1 Jo 1,3).
Vejamos como é forte a afirmação do Directório a este propósito: “O catequista reconhece e põe em acção a sua tarefa primária e específica: ser, em nome da Igreja, testemunha activa do Evangelho” (DGC 159). Note-se que este testemunho engloba a comunicação da Palavra e da vida (é testemunho teologal e moral ao mesmo tempo).
São necessários catequistas que sejam, ao mesmo tempo, mestres, educadores e testemunhas (cf DGC 237).
5. SERÁ O TESTEMUNHO UMA PEDAGOGIA?
A Igreja produziu, ao longo dos séculos, um incomparável tesouro de pedagogia da fé: antes de mais, o testemunho de catequistas e de santos (cf DGC 141).
Nenhuma metodologia pode dispensar a pessoa do catequista, em cada uma das fases do processo catequético, por mais experimentada que essa metodologia possa ser.
O carisma que lhe é dado pelo Espírito, uma sólida espiritualidade e um transparente testemunho de vida, constituem a alma de todo e qualquer método e só as qualidades humanas e cristãs do catequista garantem o bom uso dos textos e dos outros instrumentos de trabalho(cf DGC 156).
Em suma, o testemunho não só é uma pedagogia como, ao mesmo tempo, faz parte de qualquer pedagogia da fé. Assim como o Senhor veio viver para o meio de nós para nos mostrar o caminho, também o catequista há-de ser uma referência, na opção por Deus e na caridade vivida, para todos os seus catequizandos.
BIBLIOGRAFIA:
- Directório Geral da Catequese (1997);
- JOÃO PAULO II, Catechesi Tradendae (1979);
- JOÃO PAULO II, Ecclesia in Europa (2003)
- CEP, Os Cristãos Leigos (1989);
- CEP, Acreditem e tenham vida (2005). (J.A.)
Adormeci
e sonhei que a vida era alegria; despertei e vi que a vida era serviço; servi e
vi que o serviço era alegria. (Tagore)
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